Quando éramos pequenos era hábito dos meus pais levarem-nos em “expedições” para praias mais ou menos desertas onde passávamos o dia a brincar e tentar ajudar o meu pai, pescador amador de “alto gabarito internacional”, com os seus sacos e malas de equipamento, canas, iscos e anzóis. Por vezes, penso que por causa da mudança da maré, a expedição era nocturna, e enquanto o meu pai pescava o resto da família aninhava-se nos sacos de dormir a ouvir, num rádio daqueles ainda com um capa de pele, o “Quando o telefone toca”.
Certa tarde, na minha memória estávamos em Melides, na altura ainda poucas pessoas passavam férias na costa alentejana, quando pela areia vimos lentamente a aproximar-se uma senhora com um burrico. Sem nos dizer nada a minha mãe levantou-se e foi falar com a senhora, voltado uns minutos mais tarde trazendo nas mãos um embrulho. “Olhem o que eu tenho aqui”, e das folhas de figueira, saíram uns enormes e carnudos figos, a pingar um fiozinho de mel, e que, talvez por estarmos na praia, cobertos de areia e sal, me pareceram os mais doces e deliciosos figos que alguma vez tinha comido.
Todos os anos aguardo a chegada deste fruto cheia de esperança e expectativa, escolho-os e compro-os com o maior dos cuidados, penso na senhora e no burrinho, no meu pai à beira-mar, mas à excepção de um vez em Londres, nunca voltei a provar figos tão deliciosos.
Imagino que o defeito não seja apenas dos figos, falta-me o resto da história e do cenário, e na comparação com um quase perfeito momento da minha infância, qualquer fruto crescido numa estufa e comprado na cidade, fica a perder.
Para tentar dar mais vida aos figos que aqui compro, deixo hoje duas sugestões, simples e deliciosas, para uma entrada ou sobremesa.
1 – Salada de Figos
Uma combinação doce e salgada, macia e crocante, que apreciamos muito.
Figos frescos, queijo Danish Blue, pecan nuts, presunto e um fio de xarope de ácer.
2- Figos com moscatel, alfazema e fromage blanc.
Ingredientes:
- 2 colheres de sopa de açúcar
- 1 dl de Moscatel
- 4 figos divididos em 2
- Amêndoas em lascas
- Alfazema para decorar
- 2 dl de iogurte grego
- 2 dl de natas em chantilly
- 3 colheres de sopa de açúcar de alfazema
Preparação:
Numa frigideira aqueçam o açúcar até quase ao ponto de caramelo. Com cuidado adicionem o moscatel e os figos, deixem ferver e reduzir por alguns minutos.
Para o fromage blac, misturem levemente o chantilly com o iogurte e o açúcar.
Sirvam os figos mornos regados com o seu molho, acompanhados pelo fromage blanc e decorados com lascas de amêndoas e florinhas de alfazema.
Adorei tanto a história como a receita.
Há produtos que numa determinada época tem um sabor, que depois nem sempre conseguimos encontrar.
Bjs
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estou a imaginar a cena….hummmm que figuinho gostoso
Bjs 🙂 😉
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Que maravilha! Eu sou louca por figos. Ao natural, numa salada ou num doce são perfeitos e uma perdição. Gostei muito das tuas propostas, sempre encantadoras.
Um beijinho.
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grata pelo delicado comentário deixado lá no pitangas! amo figos, e aqui tambem do outro lado do equador, eles não são mais tão saboros com antigamente, talvez seja pelo “clima” das memorias de infancias que o sabor se perdeu. linda reflexão! bjs
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O texto está muito bom, as fotos e as receitas nem se fala, mas eu passo…
Beijinhos!
P.S. Ainda bem que não sais à tia!
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Olá Ana
Adoro figos e as variações à volta do fruto.
Este post deixou-me nostálgica com os figos e recordações de Melides.
Quem me dera agora um pão alentejano de uma padaria que conheço em Melides!
Um beijo e boa semana!
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ADORO FIGOS MAS POR AQUI JÁ NÃO ENCONTRO.
ESSES AI ESTÃO BEM TENTADORES.
BOA SEMANA
BJS
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A história é linda, só com muita sorte encontrarás figos iguais aos da senhora do burrito, mas também sabemos que é tudo um pouco psicológico.
Gostei muito de ambas as sugestões que guardarei para o ano que vem, e para a próxima leva de figos.
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