Doces, conservas e compotas

Marmelada com uma história de terror

 Imagino que por esta altura ninguém  precise de outra receita de marmelada, mas depois de meses a sonhar com este doce, consegui finalmente comprar marmelos, uma estreia por aqui. Podia até ter reservado este post para o Halloween, porque mais do que uma receita de marmelada, esta é uma história de terror.

Quando era criança, era na casa da  minha que se preparava este e outros doces e compotas. A minha mãe despertou tarde para as artes culinárias, e se é verdade que hoje venho de Portugal com frasquinhos dos seus magníficos doces e figos em calda, tempos houve em que a cozinha da minha progenitora era, devido aos seus temíveis cozinhados, dos quais com horror destaco: mão de vaca, sopa de feijão, soja e ovos escalfados, pouco mais do que um local de tortura.

Certo dia, não sei porquê, a minha mãe decidiu fazer marmelada, pelo que a minha irmã e eu nos instalámos com ela na cozinha, prontas a acompanhar o acontecimento. Com os marmelos já cozidos numa enorme panela, a minha mãe trouxe da despensa um pacote de açúcar, (penso que a marca era Sidul, um pacote de cor parda com letras azuis e cor de rosa).

Com espanto e incredulidade  notámos o que nos pareceu impossível, o açúcar  que a minha mãe estava a deitar sobre os marmelos tinha formigas! A minha mãe, peremptória como só ela, ignorou os nossos pedidos para que por favor poupasse as pobres formigas, com um simples “Não faz mal fica a marmelada com mais proteínas.”

E foi desta forma que cheias de horror  assistimos à chacina das formiguinhas, que depois de cozidas vivas, e como se isso não fosse suficiente, foram trituradas pela varinha mágica.

Escusado será dizer que fomos obrigadas a comer a marmelada  nos nossos habituais papo-secos para o lanche da escola, e cada vez que trincávamos algo mais duro, ou víamos um pontinho escuro na marmelada, que bem podia ser um restinho de caroço, lá nos lembrávamos das formiguinhas a ferver. A minha mãe pouco dada a “frescuras” rematava a conversa com “ficou boa a marmelada, as formigas deram-lhe um picantezinho”.

Felizmente, penso, não foi receita que tenha repetido.

A receita que se repete é a da minha tia, vinda de uma Teleculinária de 1980. No blog da minha tia podem ver também a sua deliciosa receita de geleia de marmelos.

Para a marmelada

Para os meus sogros que nunca comeram marmelada, fiz estes mini "queijinhos"

Ingredientes:

  • A mesma quantidade de açúcar e marmelos limpos (guardem a casca e caroços para a geleia)
  • 1 dl de água por cada quilo de marmelos.
  • 2 paus da canela

Preparação:

Levem ao lume todos os ingredientes. Quando o doce começar a ferver contem vinte minutos (eu queria uma marmelada mais escura por isso contei 30).

Retirem os paus de canela, passem a marmelada pela varinha mágica e coloquem em taças tapadas com papel vegetal a secar. Depois de seca podem guardar a marmelada no frigorífico.

21 opiniões sobre “Marmelada com uma história de terror

  1. LOL, o que eu me ri com a tua história.
    Eu também sou muito pouco dada a frescuras nestas coisas, mas a verdade é que insetos nem pensar… Houve uma vez que a avó do meu marido – que ainda vai cultivando lá na aldeia – me deu couves. Eu usei-as para fazer sopinha, mas nem me lembrando que eram biológicas e logo teriam de ser mesmo muito bem lavadas, acabei por lhes dar o tratamento habitual.
    Quando estavamos a comer a sopinha é que reparámos que estava cheia de piolhos (aqueles típicos das couves). Eu já não a consegui comer ao passo que o meu marido só dizia “É sopa com mais proteína e biológica!”…:P

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  2. Ana, eu AMO marmelada. estou na expectativa da chegada dos marmelos, pra poder fazer um doce.

    Queria muito acompanhar seu blog pelo feed, mas infelizmente ele só disponibiliza um pequeno paragrafo. Se voce decidir colocar o feed completo, vou ficar imensamente feliz e vou poder te ler mais regularmente.

    um beijo! :-*

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  3. Ana, estava mesmo a precisar de dar umas gargalhadas. Adorei a tua história. Imagino o vosso ar horrorizado a testemunhar a chacina das pobres formigas. E, pior, o vosso ar enojado a ter que comer a marmelada “com proteínas”. Não sei se volto a comer marmelada sem me lembrar da tua história 🙂 Um beijo e bom fim de semana.

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  4. Muito me ri com esta tua história (embora saiba que não terá tido graça nenhuma naquela altura!). Acho que nunca mais vou olhar e comer marmelada com os mesmos olhos, vou sempre lembrar-me desta história.
    Ficou muito bem a tua marmelada 🙂
    Um beijinho.

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  5. … da história da marmelada… ainda não estou em mim. Quanto aos terríveis cozinhados felizmente nunca houve soja, mas a mão de vaca… blhaccc, comia aquilo de lágrimas nos olhos e sempre com água a empurrar. Parece que ainda vejo aqueles almoços onde era servido uma gelatina com ovos mexidos intragável. Credo… só de lembrar. Bom fim.de.semana.

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  6. Oh Ana, realmente é uma história de terror. Eu sou um pouco de frescuras…se vejo “algo que não é suposto estar ali” já não consigo engolir mais nada. Até desaparecer o trauma não volto a tocar no dito ingrediente. Aconteceu-me à pouco tempo uns “pequenos seres” num pacote de farinha e felizmente vi no preciso momento em que a deitei na taça. Deitei tudo fora, não consigo…Mas terrores à parte, a marmelada sabe mesmo a terras lusas. 🙂 Felizmente tenho boas memórias desta doçura.
    Beijinhos!

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  7. Oh meu Deus! Pobres crianças 😉
    A marmelada também me acompanha desde infância, mas para mim traz-me boas e felizez memórias…
    A tua marmelada ficou com uma cor lindíssima! Adorei!
    Boa semana e boas experiencias 😉

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  8. Parece que vos estou a ver, a morder a marmelada com imenso cuidado e cada bocadinho duro quase que deitavam tudo fora mas por vergonha ia tudo para baixo!!!História engraçada mas que apesar de tudo são lembranças boas que nos ficam para sempre!
    A marmelada é sem duvida das compotas/doces melhores que tenho provado e já provei de vários sítios, mas a de Odivelas (zona onde cresci, mas muito conhecida pela marmelada e outros doces conventuais), branca, pálida, é sem duvida a melhor de todas!!!
    Os teus queijinhos estão fantásticos!

    Bjokas
    Rita

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  9. Ana,
    Parece que as formigas eram o ingrediente secreto da sua mãe.
    A minha marmelada é um pouco diferente da tua, mas para a marmelada ficar mais escura, descascas os marmelos e deixa-los ao ar, assim eles oxidam e tornam a marmelada muito mais escura. Onde vivo a tradicional marmelada do conveto de Odivelas é branca, quase como uma compota de pera ou de maçã.
    Beijocas

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