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Convidei para lanchar – Patrick Süskind

Para quem gosta muito de livros, descobrir um escritor é fazer um amigo que ao longo do tempo se torna mais e mais próximo. Lembramo-nos para sempre do momento em  que pela primeira vez lemos ou ouvimos o seu nome, do primeiro livro que comprámos. Sentimos-lhe a falta quando passa demasiado tempo na estante.

Recordo-me do dia em que li pela primeira vez o seu nome: Patrick Süskind. Sentada numa aula prática, a análise de um texto de hagiografia medieval já pronta, nada para fazer….

Creio que a minha Professora notou o ar enfadado e dirigiu-se a mim com um pequeno livro na mão.Já conhece? Pode ir lendo…. Não conhecia, era a primeira edição de Como um Romance de Daniel Pennac.

Um professor lê um livro a uma turma de alunos que como muitos outros não gostam de ler:

“ E ali estão eles…cépticos, mas ali estão.

Capítulo Um:

No século XVIII viveu em França um homem que se inseriu entre os personagens mais geniais e mais abomináveis desta época que, porém, não escasseou em personagens geniais e abomináveis. É a sua história que será contada nestas páginas.”

O  livro, O Perfume, acorda aos poucos os alunos para o prazer da leitura, a eles se seguem mais e mais autores. Eu esboço um plano. Se um dia for professora, se todos os dias lhes puder ler um pouco de um livro

Terminada a aula passo no  caminho de casa pela livraria,  tenho vontade de me sentar num jardim, de parar numa esplanada, pedir um café duplo e abrir o livro, mas no exercício de disciplina e auto-controlo vou para casa.  Releio os materiais para as aulas do dia seguinte, janto. É só ao serão que o Perfume sai finalmente do saquinho branco de plástico.

Li-o pela primeira vez como quem saboreia uma caixa dos melhores bombons, um capítulo por noite, antes de adormecer. Ao fechar os olhos lembro-me de tentar construir cenários e perfumes, viajo por Paris, imagino a ponte, o perfumista, sinto o aroma das ameixas….

Tantos anos mais tarde, e depois de ter relido o mesmo livro dezenas de vezes, não pude perder esta oportunidade de a convite da Carla, me sentar à mesa com Patrick Suskind.

Da sua vida sei muito pouco, nunca se deixa fotografar, não concede entrevistas, está retirado do mundo literário…

Na varanda sirvo-lhe não uma refeição, mas a mais perfumada e refrescante das sobremesas, queijo de baunilha e limoncello.

Saboreamos o doce sem presa, sirvo-lhe com prazer um segundo copo de limoncello gelado. Conversamos acerca da sua obra. Conto-lhe que embora nunca tenha tido alunos a quem li todos os dias uma página do Perfume, tenho ao longo dos anos oferecido a todos os meus amigos que dizem não gostar de ler, um dos seus livros. Partilho com ele a alegria de ouvir alguém dizer “ Gostei tanto de ler aquele livro do Senhor Sommer que me deste, já comprei outro livro do escritor, acho que se chama o Perfume.”

Fica pouco tempo em minha casa, bebe um café, só tempo necessário para falarmos um pouco do da adaptação do Perfume ao cinema, e do episódio da série Missão Impossivel de Heston Blumenthal na qual o chef tenta convencer dois executivos da industria cinematográfica a servir snacks que complementem as sensações trazidas pelos filmes, usando para exemplificar várias cenas de o Perfume. A ideia de perfumar a sala de cinema com cheiro a peixe podre não foi, já se imagina, bem recebida.

Despede-se, elogia educadamente os meus dotes culinários, evito pedir que assine  as minhas cópias dos seus livros.

De regresso à varanda passo pela estante, não resisto. Sinto o aroma da relva do jardim acabada de regar, as chávenas de café vazias, talvez mais um pouco de licor… Jean_Baptiste, tive tantas tuas….

Queijo de baunilha e limoncello

Para a minha receita usei cottage cheese com 4% de gordura que podem substituir por requeijão ou queijo fresco.

Ingredientes:

  • 250 gramas de queijo cottage
  • 1,5 dl de natas
  • 2 colheres de sopa de icing sugar
  • 1 pitada de baunilha (uso vagens de baunilha secas e trituradas)
  • 4 colheres de sopa de limoncello
  • 2 folhas de gelatina

Preparação:

Batam o queijo até que esteja cremoso. Cuidadosamente envolvam-no com as natas batidas em chantilly com icing sugar. Amoleçam as folhas de gelatina em água fria. Dissolvam-nas no limoncello previamente aquecido. Misturem a gelatina e o preparado de queijo e natas. Deitem em forminhas e levem ao frigorífico para solidificar

25 opiniões sobre “Convidei para lanchar – Patrick Süskind

  1. Olá Ana, é com muito gosto que leio a tua participação no teu próprio passatempo 😉 Já tinha saudades de ver as tuas receitas e de te ler.
    Conheço o teu convidado só por andar nas minhas mãos enquanto o arrumo nas prateleiras da minha biblioteca 🙂 Pelo que sei trata-se de uma história de um crime (contado pela boca dos alunos que gosto sempre de perguntar de gostaram de ler o livro), por isso talvez não me despertou a atenção para o ler. Mas depois de te ler fiquei bastante curiosa em conhecer a sua obra.
    A sobremesa além de ter um aspeto divinal e irresistível parece deliciosa 🙂

    Vai dando notícias 🙂 e um grande beijinho

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  2. Tenho precisamente o livro do “Perfume”. Igual ao teu. Páginas já amarelecidas pelo tempo. Uma história que já vi também em filme e apesar de ter a sua dose de loucura adorei, tal como o livro. Uma história que se consegue sentir e cheirar. Para o receber um sobremesa perfeita, baixa em gordura 🙂 Boa semana.

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  3. Olá Ana
    Andava curiosa para ver a tua escolha. Com que então o Patrick?! Gostei muito do Perfume. Depois li A Pomba e a História do senhor Sommer. Nenhum me “prendeu” como o Perfume. Quero ler o ensaio Sobre o Amor e a Morte. Está para breve.
    Quanto à receita, parece-me uma suave sobremesa. Pouco doce como aprecio. A experimentar.
    Um abraço de boa semana.
    Guida

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  4. O perfume é uma das obras-primas do século XX. Um livro brilhante, que conseguimos cheirar. Do teu convidado só li mesmo O Perfume e A Pomba (como comecei pelo primeiro, fiquei dececionada com o segundo, claro). E decidi parar por aí. Fico com o perfume. Monstruoso e sublime em simultâneo. Já o teu queijo é só sublime 😉
    Um beijo,
    Ilídia

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  5. Mas que optimo lanche, adorei a receita e o teu convidade e como já te disse este desafio é tão giro e faznos partilhar tanto de nós, ADORO! beijos

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  6. Acho que foi este escritor que despertou o meu gosto pela leitura ainda muito novinha. Confesso que dele só li mesmo O Perfume e A Pomba, mas adorei. Li com paixão. Com gosto e com respeito. O Perfume é um livro brilhante ao qual não ficamos indiferentes. E quase lhe sentimos o cheiro 🙂
    E indiferente não poderia ficar à tua sobremesa, sublime e perfumada 🙂
    beijinho.

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  7. Olá Ana,

    nunca li O Perfume, mas vi a adaptação ao cinema, e é sem dúvida uma estória à qual não se fica indiferente… eu gostei muito. E se a adaptação já é cativante, o livro deve ser completamente inebriante.
    O teu queijo ficou lindíssimo, e o pormenor do limoncello deve ser muito bom.

    beijinhos

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  8. Que receita tão bonita, e tão inesperada! Nunca pensei que fosse o que realmente é!
    Adorei o livro “O Perfume”, é realmente inebriante, no entanto nunca estendi a minha leitura de Suskind a outras obras.
    Beijinhos,
    Inês

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  9. Ana,
    Esperava ansiosamente pela tua participação. Há livros que nos marcam, porque fizeram parte uma determinada etapa das nossas vidas, porque nos foram oferecidos por alguém especial, porque nos levaram à descoberta de outros mundos. Todos eles entranham-se em nós. Vão connosco para todo o lado. Recusamo separamo-nos deles. Tenho muitos assim na minha estante. Gostei bastante da tua escolha. Li o “Perfume” faz alguns anos, já. Comprou-o a minha irmã, que mo passou de seguida (assim se conhecem muitos livros, partilhando, de mão em mão). Uma obra fascinante. Parabéns pela escolha.
    Beijinhos
    P.S. Não podias ter oferecido melhor sobremesa. Um queijo tão perfumado.

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  10. Queijo com lemoncello? Só posso adorar. E tenho um belo lemoncello cá em casa, portanto tenho mesmo que testar esta maravilha. E ainda não para o meu convidado, ele avisou-me que está atrasado 😀

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  11. Olá Ana. Eu vi o filme. Não li o livro. Estou a perder. Mas ficou o bichinho da vontade. Satisfá-la-ei em breve.
    Neste momento ando a ler José Luís Peixoto e Valter Hugo Mãe encontra-se em lista de espera na mesinha de cabeceira.
    Apreciei ao pormenor a graciosidade e a candura deste queijo com lemoncello. Excelente escolha, a tua.

    Um abraço.
    Patrícia

    P.S. E a seleção da Suécia acabou de perder com a Inglaterra. Pensei em vós e resolvi passar por cá para vos dizer que são só coisas de futebol. Confesso não apreciar muito este desporto, mas quando joga a seleção temos sempre um bocadinho de nós em campo. É a nação que está em causa e o patriotismo de súbito eleva-se.
    Vamos torcer por Portugal no domingo!

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  12. Querida Ana, como sempre fico rendida aos teus textos!!
    “O Perfume” foi um livro que devorei, foi o único do autor que li, mas adorei! Curiosamente, o livro que me despertou o gosto pela leitura foi o “Drácula de Bram Stoker” e nunca mais me esqueci!
    E que receita mais original e encantadora, tenho que experimentar esse queijo de baunilha e limoncello!!
    Infelizmente não consegui participar nas duas últimas edições, com grande pena minha, mas espero que depois desta pausa de férias já consiga:))
    Beijinhos e boas férias, se for caso disso! 🙂

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  13. Do autor não sei rigorosamente nada, mas o livro foi-me tão elogiado que não resisti a comprar e ler de imediato. É muito mais que a história e um crime, acreditem. É uma escrita única! Essa sugestão é perfeita, vivam os sabores e aromas!
    bjs

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