A Pastelaria · Convidei para jantar

Convidei para lanchar – Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre

O som dos cascos dos cavalos anunciam a chegada da sua carruagem. Pela janela vejo-a trocar algumas palavras com a sua dama de companhia antes de se dirigir ao meu apartamento. Alcipe – A  Marquesa de Alorna vem lanchar comigo.

Somos amigas há décadas, e embora eu seja uma assumida republicana, D. Leonor é uma das figuras da nossa História que mais admiro e é ela a minha convidada deste mês do Convidei para Jantar que decorre em casa da Alice e tem como tema Aristocratas.

Fiel ao seu tempo, continua a preferir a sua carruagem a um carro, os pesados e elaborados vestidos e perucas ao estilo dos nossos dias.

Sentamo-nos para chá e duchaises.  – Muito a propósito –  diz-me enquanto olha curiosa para os bolinhos que lhe sirvo.

– Para a próxima preparo uma marquise!

Conversamos acerca  dos anos que passou em Chelas, das saudades que tem dos doces que ajudava as freiras a preparar.  – Nunca mais comi um Manjar branco tão bom, tu qualquer dia podias procurar a receita nesse livro com botões onde guardas tudo…pode ser?

Esquece-se por vezes dos bolos e do chá, perde-se em cenários e locais onde viveu, relembra Paris e Viena, fala-me com entusiasmo dos seus quadros, de poesia, dos seus autores favoritos.

Como habitualmente os meus gatos dormem escondidos debaixo das suas saias, uma tendinha improvisada sem a qual não passam cada vez que a tia Leonor nos visita.

-Gostava tanto de ter um vestido como os teus – admito.

– E eu de usar calças e botas em vez destes corpetes e perucas pesadíssimas!

Como cúmplices, dirigimo-nos ao meu quarto. Abro o guarda fatos para que possa escolher entre as minhas roupas algo que queira experimentar.

– Em termos de  cor não há grande opção!  – Sorri enquanto vasculha o meu monocromático armário.

Ajudo-a a trocar de roupa. Olha para o espelho com espanto e quase admiração: –  Gosto destas calças, que confortáveis são… achas que posso mesmo sair para a rua assim?

Despedimo-nos com um abraço. Leonor promete voltar brevemente, quer ir às compras. A ideia de que hoje em dia não precisamos de costureiras nem de encomendar as nossas roupas agradou-lhe mais do que eu tinha imaginado.

Tem pressa, vai hoje jantar com a sua amiga Margarida.  – Que surpresa vai ter quando me vir sem peruca!

Acena-me ao entrar na sua carruagem. Eu volto ao quarto. Olho o vestido esquecido sobre a cama. Coloco-o à minha frente, imagino-me a rodopiar num grande salão de baile, uma princesa num conto de fadas. Oiço  música, mas é o meu telemóvel que toca. Do outro lado  da linha  o viking convida-me para um passeio pela cidade e um café para aproveitarmos as poucas tardes com luz que nos restam antes da chegada do Inverno.

Cuidadosamente penduro o vestido de Leonor no guarda-fatos, calço as botas e saio ao encontro do meu príncipe.

Duchaises com frutos silvestres

Ingredientes

Para a massa de choux:

  • 90  ml de água
  • 40  gramas de manteiga ou margarina
  • 1 pitada de sal
  • 1 uma colher de chá cheia de açúcar
  • 60 gramas de farinha de trigo
  • 2 ovos grandes

Para servir:

Para rechear:

  • chantilly

Preparação:

Aqueçam o forno a 220ºC.

Forrem um  tabuleiro com papel vegetal.

Num tacho deitem a água, a manteiga, o sal e o açúcar. Aqueçam em lume médio até levantar fervura.

Quando estiver a ferver retirem do lume e rapidamente juntem a farinha peneirada, mexam bem. Voltem a colocar a massa ao lume, mexendo sempre, até que a massa comece a secar e se descole do fundo e paredes do tacho.

Passem a massa para uma tigela e batam-na durante mais ou menos um minuto para que arrefeça um pouco.

Incorporem os ovos, um de cada vez, batendo bem entre cada adição. Com o primeiro ovo a massa vai parecer talhada, não se preocupem,  continuem a bater. Eu uso a batedeira porque é realmente muito mais fácil, mas podem bater a massa com uma colher de pau.

Assim que a massa estiver pronta,  vão ter de trabalhar rapidamente. Para fazer as duchaises podem usar um saco de pasteleiro, ou simplesmente ir colocando colheres de massa no tabuleiro dando-lhes a forma desejada.

Esta massa cresce imenso, tomem atenção ao espaço entre as duchaises no tabuleiro.

Coloquem o tabuleiros no forno (220◦C ) até as duchaisses terem crescido e ganharem uma cor dourada. (8 a 10 minutos). Muita atenção que neste período não podem abrir a porta do forno, ou  os bolos desmaiam e ficam achatados.

Baixem a temperatura para 180◦C e continuem a cozedura durante mais 10 a 15 minutos até as duchaoses   estarem secas. O resultado final deve ser um bolo muito leve e oco por dentro.

Depois de frias recheiem as duchaises com chantilly e decorem  com Creme de Pasteleiro e frutos silvestres.

20 opiniões sobre “Convidei para lanchar – Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre

    1. é assim que se escreve? ups… Fiz no sábado, ainda há! É meteres-te num avião. E ontem, tal é a minha sorte, passei o dia na escola a fazer profiteroles. Hoje como foi dia de exame cheguei mais cedo a casa e estou a colocar a escrita em dia.
      bjs ( já te escrevi)

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  1. Ana,
    Que delicia de post. Estou a olhar para o meu triste chá de cavalinha tão só, que bem que ía acompanhado desses duchaises. E a D. Leonor, que bela visita.
    Beijinhos

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  2. Olá Ana
    Adorei tudo: a receita, a personagem, a história.
    Ando a ler as Luzes de Leonor, da Maria Teresa Horta desde o verão. É livro de cabeceira, daqueles que se arrastam, entre outros que são devorados num ápice. Adoro as descrições de doçaria no convento e o teu post lembrou-me isso… É de facto uma figura carismática e única na nossa História.
    Um abraço,
    Guida

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  3. Um post delicioso como sempre Ana 🙂
    E as duchaises, fabulosas, bem apropriadas à convidada D. Leonor.
    Que venha daí uma duchaise para me acompanhar neste fim de tarde frio.
    Um abraço.

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  4. Estou absolutamente rendida! Acho que já não como duchaises há anos! No Natal a minha sogra faz uns bolinhos de massa choux que são parecidos com os profiteroles, apenas não os recheia com creme pasteleiro mas cobre-os com uma espessa camada de chocolate derretido. E as tuas duchaises devem estar uma verdadeira delícia, leves, pouco doces, perfeitas para o creme pasteleiro. Se eu fosse a Marquesa de Alorna, depois do lanche já não cabia nem nas calças de ganga nem no vestido de espartilho :p

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  5. Ana, estou maravilhada com o teu texto! Adorei a forma como trouxeste a tua convidada até aos dias de hoje e lhe foste vestir as tuas roupas, eheheh, imagino que tenha ficado bem surpreendida e rendida aos confortos da modernidade! 🙂 🙂
    E essas duchaises, ai ai essas maravilhosas duchaises…!! Lindas, lindas e tão deliciosas… Mas que sorte teve Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre, pôde largar os seus quilos de saias e cabeleiras e ainda teve direito a banquetear-se com essas duchaises ao lanche!! 🙂
    Adorei a tua participação, Ana!!
    Beijinho muito grande:)

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  6. Olá Ana,
    Um regresso em grande. O texto, as fotos e …os duchaises que eu adoro. Ainda da última vez que estive em Lx fui lanchar com umas amigas à Versalhes e a duchaise não pode faltar. E, apesar de gostar tanto deste bolo, ainda gostei mais da tua história.
    Bjnhos

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  7. Ana, tenho acompanhado seu blog há pouco tempo. Eu era uma péssima cozinheira e meio preguiçosa, mas tenho sentido grande motivaçao ao ler seus posts. Amei este último Convidei Para Jantar e tenho me deliciado com cada nova receita sua… Como sou principiante na bela arte da culinária, gostaria de saber o que é Massa Choux. Muito obrigada pelos deliciosos posts.

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    1. Cecilia,
      Ovrigada pelas suas palavras! A massa choux é uma massa base de pastelaria. A massa é primeiro “cozida” ao lume e depois “assada” no forno. Com esta massa podem-se fazer imensos bolinhos como profiteroles, tibias, rins e os tradicionais franceses como o Paris Brest.

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