Ana - cozinheira · Restaurantes · vegetariano

A receita de que ninguém precisa mas que eu quero muito partilhar

Apesar das muitas reclamações minhas e dos meus colegas acerca das nossas cozinhas, do excesso de trabalho e loucura dos nossos horários, da falta de organização do meu HC (que entretanto melhorou um pouco), a verdade é que a nossa brigada é uma família, e somos ferozmente unidos e leais uns aos outros.
Durante este ano e meio de trabalho no Kramer já passei por momentos muito difíceis, dias em que cheguei a casa e disse ao viking que me ia demitir, já me cortei e queimei vezes sem conta, já fui parar ao hospital.

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Mas há também os momentos felizes que felizmente ainda são mais frequentes do que os maus dias. Um banquete que corre especialmente bem, um telefonema dos meus colegas quando estou doente, um abraço do meu filho Bjarne, servir um prato meu.
Trabalhava no Kramer apenas há uns meses quando soube que devido a um pequeno problema de saúde, teria de ser operada e deixar a cozinha durante uns dias.

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Eu andava triste e assustada, ninguém gosta de hospitais, não é? E creio que para me animar, o HC pediu-me para fazer um prato vegetariano para o menu de almoço da semana seguinte. Hoje em dia, esta é uma situação vulgar, especialmente porque no Stortorget onde tenho agora trabalhado, temos um menu fixo de jantar muito simples, e todos os dias tenho de criar umas alternativas estilo sugestões do chef os pratos do dia. Mas naquela ocasião, e sendo a primeira vez que teria algo da minha autoria no menu, senti-me tão feliz e orgulhosa que me esqueci por uns minutos das agulhas, batas brancas e médicos que me esperavam.
A minha sugestão foi um risotto de beterrabas (estávamos no inverno e por isso muito na estacão das beterrabas), e embora esta pareça uma receita banal, a minha versão é tao deliciosa que nunca mais a deixámos de usar.
No meu último dia antes da ida para o hospital, estava eu a tentar organizar a cozinha que ia abandonar, quando o HC veio colar na parede o meu da semana seguinte. E passando por mim deu-me um habitual safanão e disse “já foste ler o menu?”IMG_0537
Eu fiquei tao comovida, que nem lhe disse que estava na altura de aprender a escrever o meu nome. Pedi uma cópia do menu que guardo religiosamente em casa. Talvez esta história vos pareça exagerada e palerma, mas para mim que passei meses e meses e meses em cozinhas a descascar batatas, a seguir receitas de outros chefs, a ver as minhas propostas de receitas rejeitadas, esta foi uma vitória quase inimaginável e que recordo cada vez que as coisas correm menos bem no restaurante.
E por isso, e embora saiba que não precisam de mais uma receita de risotto de beterraba, aqui fica a minha versão.
Para o risotto ficar vermelho escuro e não cor-de-rosa, é essencial que façam um puré de beterrabas.
Para dar à receita um toque sueco eu uso queijo Västerbotten que podem substituir por parmesão.

A qualidade do arroz também é importante, no restaurante usamos o vulgar arbório, mas em casa opto por carnalori que tem uma melhor textura e mantem melhor a sua forma durante a preparação do risotto. Não há nada pior do que um risotto demasiado cozido e empapado!
Ingredientes para duas pessoas:
2 chávenas de café de arroz carnalori
2 beterrabas
Caldo de vegetais (eu uso caldo de cebola caramelizada)
0,5 dl de vinho branco
1 colher de sopa de óleo
2 colheres de vinagre balsâmico
Sal e pimenta
Pinhões ou nozes
Queijo parmesão, queijo chevre e manteiga a gosto.
Preparação:
Cozam uma das beterrabas em água e sal. Passem o preparado com a varinha mágica.
Cortem a segunda beterraba em cubinhos e salteiem juntamente com a cebola picada. Acrescentem o vinagre balsâmico e deixem reduzir.
Juntem o arroz e o vinho e voltem a reduzir. Aos poucos vão acrescentando o caldo quente, e o  puré, e agitando ou mexendo o vosso risotto.
Quando estiver cozido ao vosso gosto, retirem do lume, acrescentem a manteiga e o queijo parmesão ralado. Sirvam decorado com queijo chevre e pinhões. (eu queimo sempre os meus pinhões, e o pão também é um problema que tenho, por isso desisti de os tostar, mas ficam mais aromáticos e bonitos tostadinhos.)

A minha vida na Suécia · A Pastelaria · Ana - cozinheira · bolinhos e bolachas

Tjejsemlor – as parvas das feministas, e um lanche cor-de-rosa para todos.

A Suécia é conhecido como o país dos que se ofendem facilmente, e de entre todos os suecos, ninguém se ofende com tanta frequência como as feministas.

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Este não é um país perfeito, se és uma mulher em idade de ter filhos tens menos probabilidades de conseguir um emprego do que um homem, os salários das mulheres são em média mais baixos do que os dos homens….
Por outro lado uma mãe solteira tem um imenso apoio do estado, se tiveres como “emprego – mãe” podes sempre largar os miúdos numa espécie de infantário para tratar dos teus assuntos, e a licença de maternidade estende-se por um ano ou mais.
Não vivemos num país onde és apedrejada por olhares para um homem, onde não podes sair à rua sem ser com uma tenda vestida, onde não és mais do que a sombra do homem que te comprou ao teu pai.

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Mas estes assuntos não preocupam em nada as feministas suecas. O que as ofende, o que as faz irem para os jornais a gritar descriminação, não é a morte de mais uma mulher do outro lado do mundo num “acidente doméstico”, é um bolo, um bolo!
E isto porque houve uma Padaria, cuja dona é também mulher, que teve o desplante de vender semlor mais pequenas e cor-de-rosa às quais chamou “ semlor para as miúdas”. As verdadeiras semlor são enormes, eu nunca consegui comer uma inteira, e olhem que gosto de comer, a ideia das mini semlor é fantástica, mas não para as feministas, que desataram logo aos gritos que é por estas coisas que temos bulimia e anorexia.
Patético? Ainda há melhor!
É que ao mesmo tempo que as feministas de Malmö e graças ao lobby hipster e trendy da cidade estavam a obrigar a dona da padaria a mudar o nome dos bolos que vendia, a iniciativa feminista de Estocolmo (partido feminista sueco) servia nas suas festas, adivinhem… “semlor para as míudas” e cor de rosa, para não haver dúvidas.

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Sábado depois do banquete dos maçons e do serviço de jantar, depois de um turno de doze horas, tive de esperar para chegar a casa porque as feministas de Malmö, tinham decidido fazer uma manifestação, aberta segundo o seu manifesto a mulheres e transexuais, às onze da noite.
Estas mulheres desgraçadas, humilhadas, exploradas, largaram a filharada em casa com os maridos, e saíram para as ruas numa espécie de rave ambulante a gritar as palavras de ordem “abaixo o nazismo, abaixo a sociedade patriarcal, abaixo o capitalismo!”
Nazismo…capitalismo, a mesma coisa portanto, está-se a ver, farinha do mesmo saco…

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E eu que como sabem, já tarde na vida mudei de profissão e consegui por nada mais que não o meu esforço e valor, um lugar numa profissão maioritariamente masculina, que lutei por ser respeitada não por ser mulher ou homem, mas sim um bom chef, eu que pago os meus impostos e cumpro os meus deveres de cidadã, senti-me envergonhada.
As feministas suecas fazem-me ter vergonha de ser mulher.
E por isso e só para elas, que fiz estes pãezinhos com a muito tradicional massa de semlor, cor-de-rosa, com pouco açúcar, o estereótipo da sobremesa para mulheres. O viking adorou, e hoje levo uma caixa para partilhar com os meus colegas que (se as feministas sabem disto temos já uma manif à porta do restaurante) me tratam por “honey” ou “love”, e me carregam com os sacos de trinta quilos de farinha, e fazem tudo o que eu por ser mais baixa e mais fraca, e não por ser mulher, não consigo fazer com tanta facilidade.
Abaixo as palermas das feministas suecas!!

Pãezinhos de semlor com doce de morangos e creme fraiche
Ingredientes:
Meia receita de semlor. (sigam as instruções para a massa e cozedura, mas formem pequenos pãezinhos estilo scones)
Doce de morango ( uso sempre o mesmo)
Creme fraiche 34%

Preparação:
Preparem os pãezinhos e deixem-nos arrefecer,
Batam o creme fraiche e misturem um pouco do doce de morangos.
Recheiem os pãezinhos com mais doce de morangos e uma colher do creme fraiche. Partilhem com quem vos respeita e merece, independentemente do seu sexo.

Ana - cozinheira

Banquetes, mais maçons, prep. e a mini cozinha

Ontem como vos tinha dito tínhamos marcado um banquete nos maçons para 160 convidados. Depois da loucura do último banquete, eu decidi que não ia continuar a trabalhar nestas condições e assim que a semana começou falei com o HC e pedi para que nos organizássemos melhor.

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A bandeira vê-se da nossa cozinha, os macons estão em casa!

 

A preparação para o banquete de sábado começou segunda feira no stortorget comigo a preparar e confitar frangos e a fazer sobremesas.

Quantos quilos de batatas? Alguém adivinha?
Quantos quilos de batatas? Alguém adivinha?
Mais prep.
Mais prep.

Como trabalhei a semana toda na cozinha do Stortorget tive tempo para organizar e preparar tudo a tempo e horas. O Nickas o Bjarne fomos seguindo uma mise en place feita por nós e ontem de manhä tínhamos tudo pronto.

A cozinha dos macons( área publica, daí a fotografias). É neste espaco minusculo junto à máquina de lavar loica que empratamos os banquetes. É de loucos ou não?
A cozinha dos macons( área publica, daí a fotografias). É neste espaco minusculo junto à máquina de lavar loica que empratamos os banquetes. É de loucos ou não?

Ninguém gritou, ninguém se esqueceu de nada, ninguém adoeceu.

O resto da cozinha e o meu filho Bjarne a sonhar com uma bebida depois do servico.
O resto da cozinha e o meu filho Bjarne a sonhar com uma bebida depois do servico.

O único pequeno incidente aconteceu quando os maçons pediram que a sobremesa fosse servida e com os sorbets já no prato, fecharam a porta para conferenciarem durante dez minutos. Eu dei graças por o HC estar em casa, ou teria havido gritaria e uma porta deitada a baixo a pontapé.

Os sorbets a derreterem, os macons na converseta.
Os sorbets a derreterem, os macons na converseta.

Como sabem a comida tem de ser servida muito rapidamente e por isso não tenho fotografias da entrada (que preparei hoje de novo para o meu viking e que publicarei amanhã) nem do prato principal, mas aqui ficam algumas imagens da sobremesa já a derreter nos pratos…..

pêras em pickles doce com anis estrelado, creme fraiche, merengues, sorbet de pêra.
pêras em pickles doce com anis estrelado, creme fraiche, merengues, sorbet de pêra.

Depois do banquete servido voltei ao Stortoget para limpar a cozinha e fazer o serviço de jantar, foi um dia difícil e cansativo, mas correu incrivelmente bem. Vamos dizer ao nosso HC que não o queremos nos banquetes, preferimos trabalhar apenas os três.
Amanhã volto ao blogue e às vossas casas, por hoje sofá, café, filmes o meu viking e os meninos.
Bom resto de domingo para todos.

bolinhos e bolachas

Tom´s crackers e um pequeno-almoço reconfortante

Este não é o meu pequeno-almoço de todos os dias, mas antes um pouco de conforto que me ofereci depois do inferno que foi a noite passada no restaurante, e antes da reunião de chefs desta tarde seguida de um turno de dez horas. Sem inspiração para mais…..

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A receita é do meu head-chef e por isso todos lhe chamamos Tom´s crackers. São umas bolachas fantásticas para um prato de queijos ou como hoje para o meu pequeno-almoço. E com o extra de não conterem glúten.

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Ingredientes:
4 dl de farinha de milho
2 dl de sementes de girassol
2 dl de semente s de sésamo pretas
1 dl de sementes de linhaça
1 colher de chá de sal
4 dl de água a ferver
1 dl de azeite
Flor de sal

Preparação:
Misturem todos os ingredientes excepto a flor de sal.
Aqueçam o forno a 150°C.
Espalhem o preparado tão finamente quanto possível em tabuleiros forrados com papel vegetal.
Salpiquem com flor de sal.
Levem ao forno durante 30 minutos.
Depois de frias guardem as bolachas em caixas bem fechadas e secas, duram semanas.