Por aí · Restaurantes

Almoço no Gilbert Scott….Lia, senta-te.

Um dos meus chefes britânicos favoritos é como sabem Marcus Wareing, não tanto pela sua personalidade, mas mais pelo estilo da sua cozinha.

Comprei há algum tempo o livro de um dos seus restaurantes e gostei tanto das receitas que assim que marcámos a nossa visita a Londres, marcamos imediatamente uma mesa no Gilbert Scott. Este era o segundo dia da nossa viagem e estava imenso calor.

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Uma bebida antes do almoco

Antes do almoço passámos ainda por um pub do outro lado da rua, e enquanto bebíamos a já habitual cidra para ele, vinho para mim, admirámos um pouco mais o edifício de St Pancras e partilhámos  as nossas expectativas para a refeição que se aproximava.

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Entrámos.

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Fomos recebidos de forma habitual, “marcámos  no nome Dahlberg” “querem deixar os vossos sacos do bengaleiro…” A primeira sala do restaurante é uma espécie de bar onde também se toma chá e é realmente acolhedora, com o tipo de decoração que eu tinha visto online e no livro.

Mas o restaurante não é aqui. Fica noutra sala, grande, não grandiosa. A dar para o vazio, quase faz eco. A decoração é muito simples,  parece mais que o espaço é simplesmente demasiado grande. É uma mais uma sala com mesas do que uma sala de jantar.

Sentámo-nos e passados uns minutos veio um empregado perguntar se queríamos água.  – Sim.

Veio o sommelier, entregou-nos a carta dos vinhos e ofereceu ajuda para escolher o vinho. Eu fiquei um pouco confusa, “Is it ok if we choose the food first?”.IMG_3925

Mais uns minutos e chega o terceiro empregado os menus.

Há um menu pré escolhido £29 por três pratos, ou o regular à lá carte. Nada nos agradou no menu, escolhemos do à lá carte.

Este é um restaurante que se define como tendo “original yet familiar menu paying tribute to the historic nature of the building, celebrating wonderful British produce.”

Eu estava na espectativa de alguns pratos do livro, ou receitas mais conhecidas deste chef como a sua versão do Eton mess escondido dentro de um merengue, ou a tarte que fez para a rainha.

Habitualmente tenho dificuldade quado vou comer a restaurantes  porque quero provar tudo, aqui infelizmente,  o problema foi escolher o que de entre o queijo feta ao falafel, fosse novo ou excitante o suficiente para nos  tentar.

Pedimos uma garrafa de Alvarino –  sem ajuda. O pão  era mais para o fracote, com sementes de endro, a manteiga também nada de especial.

 

Como entradas escolhemos:

Scottish scallops spring peas, brown butter,  as veiras vieram com ervilhinhas tenras e rebentos de ervilhas e beurre noisette. Eu gosto das vieras com uma camadinha mais dura, frita, estas estavam para o emborrachado. Mais para o cozido na manteiga do que grelhadas ou fritas.

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O Viking escolheu Dorset crab pickled carrot, cashew, coriander

Este prato era realmente muito mais bonito, havia vário legumes em pickles, muito estaladiços, o caranguejo num creme quase doce e muito leve.

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Depois das entradas perguntaram-nos se queríamos o pão na mesa ou se preferíamos que tirassem. Dissemos que podia ficar, o empregado virou costas, veio outro, levou o pão.

A garrafa de vinho ficou na mesa, de vez em quando vinha um empregado que em silêncio nos enchia os copos.

Chegaram os pratos principais:

Grilled sea bream borlotti, taccole, olive, capers  para mim, mais uma vez saboroso, mas nada que nenhum de nós não  possa fazer em casa.

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O Magnus teve mais pontaria com a escolha pediu Grilled red mullet prawns, chorizo, brandade  – para o meu gosto bastante picante, penso que por causa do chouriço, mas realmente uma delicia e desde que voltámos de Londres até já preparámos um jantar inspirado neste prato.

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Ao nosso lado estavam um grupo de dois casais ingleses, bastante  mais velhos do que nós, a falar das casas de campo e dos concertos de música clássica.

Detetámos um casal de foodies (estavam a tirar fotografias à comida), mas pouco mais. Sabem quando estão a comer num restaurante e se sente a vibração das pessoas, como um zumbido, vozes e risos…aqui nada.

O que havia aqui era uma senhora a tocar piano na sala. Oh meu Deus…. Ele era os Abba, ele era Gershwin, ele era….midnigh blue…a sério, midnight blue. Nós pensámos que daqui já não piorava, mas piorou.

A senhora fez um intervalo, e caiu um silêncio de morte no restaurante, só se ouviam os talheres.

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Vinhos para acompanhar a sobremesa, todos portugueses, a garrafa mais cara custa 889€!!

 

Veio a sobremesa:

Warm ginger cake, vanilla ice cream  maravilhoso o bolo, molhadinho e sem estar demasiado doce, o que como sabem neste tipo de sobremesas é quase obrigatório.

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Eu pedi Chocolate praline tart, salted caramel ice cream, também muito bom mas nao extraordinário.

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Terminámos um pouco desapontados, pagámos sem sequer beber café, o que é raro, mas a senhora do piano tinha voltado da pausa, e o som dos clássicos de cruzeiro para ingleses reformados, era ainda pior do que o barulho do silêncio.

Escolhemos mal os pratos? Tivemos má sorte com o dia? Tínhamos expectativas muito altas?

Não nos entendam mal, eu sou chef,  o viking é foodie by proxy, mas não somos snobs, devoramos um falafel na rua em Malmö  depois de um concerto, com o mesmo gosto com que saboreamos um almoço no Dinner, mas estávamos realmente à espera de mais.

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Este é um restaurante sem estrelas mas tem o nome Marcus Wearing na porta, e não é barato.

Não sei se já viram o programa boiling point que acompanha a abertura do primeiro restaurante de Gordon Ramsay. No episódio 1,  o chef dá uma fenomenal desanda a um empregado de mesa que tinha um penso rápido azul num dedo. Até no restaurante onde trabalho só se usam estes pensos na cozinha! Mas no Gilbert Scott o sommelier ter um dedo enrolada a azul enquanto serve o vinho parece ser ok….

Sei que para alguns de vocês este post é um pouco uma desilusão, e especialmente para a Lia que também gosta tanto do Marcus Wareing, mas é só a nossa opinião, vale o pouco que vale. A comida era boa, o serviço minimamente competente, mas mais nada.

Honestamente, e com tantos lugares onde comer em londres, não tencionamos nas próximas viagens lá voltar.

Leiam mais sobre as nossas viagens na categoria Por aí, e sobre a nossa visita a Londres seguindo a tag – Londres.

4 opiniões sobre “Almoço no Gilbert Scott….Lia, senta-te.

  1. Olá Ana,
    a sério? Oh que desilusão!!!!!!! Sabes que também tenho uma grande admiração por ele? De resto, o livro «O ingrediente perfeito» foi alvo de obsessão durante um longo período e intensamente reproduzido na minha cozinha… Mais um mito que cai 😉
    Espero que esteja tudo bem contigo. Não tenho deixado rasto das minhas visitas mas nunca deixo de espreitar a tua padaria.
    Abraço,
    Guida

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  2. Ohhhh Ana,
    Tal como diz a Guida, mais um mito que cai…
    Bem sabes que li este teu post no dia e assim que li o título, não me sentei… Deitei-me, lol!! e ainda bem, pois nem queria acreditar. Isto realmente, é como dizes, com tanto lugar fabuloso para comer em Londres, desperdiçar um dinheirão numa refeição que era suposto ser memorável, é de ir às lágrimas.
    Sabes que eu adoro o Marc, mas já uma vez tinha ficado decepcionado com ele, como pessoa, pois assim que saiu dos restaurantes do Gordon, desatou a falar mal dele e eu, por muitas razões que ele pudesse ter, achei mal e fiquei decepcionada, pois como diz o ditado, estava a cuspir no prato onde comeu, mas como Chef, mantive a opinião lá em cima e afinal.,.
    Eu digo sempre e confirma-se. Eles não podem estar em todo o lado e para manter o standard no restaurante, não podem passar tanto tempo na televisão a serem celebridades e nesse aspecto, o Theo Randall é um exemplo a seguir, pois não descura o seu restaurante em prol, de shows televisivos.
    Vale o que vale e estes feedbacks são sempre a ter em consideração…
    Um beijinho linda,
    Lia

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  3. É uma pena quando uma pessoa tem expectativas altas e fica desiludida. Nesse sentido não conheço a experiência, porque nem tenho particular aptidão para a culinária nem costumo ir a restaurantes muito renomados, mas de resto acho que todos conhecemos a sensação! Bem, para compensar esse haverá outros sem fama que superam expectativas 🙂

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