Nunca fui grande habilidosa. Nas aulas de trabalhos manuais e/ou oficionais, as minhas desobras de arte eram sempre as piores e vezes sem conta dei com os professores a olharem para as minhas criações com a cabeça meio de lado, como se a procurarem palavras menos más para me dizer: “isto está uma caca de primeira”.
As frases invariáveis acabavam por ser “isto está um bocadinho torto” “O que é?” e “Mas como é que tu fizeste isto?”
É que não era só a extrema falta de jeiteira, e eu perder passadas duas aulas o interesse em qualquer coisa que estivesse a fazer Em vez de me resignar e escolher projectos nos quais não se notasse muito a minha falta de destreza, era, sempre fui, uma overachiever, se bem que neste caso a coisa invariavelmente acabasse com o prefixo under-.
No primeiro ano do ciclo a minha turma fez um presépio em barro, só com dois reis magos. O meu nunca passou do cone que seria o seu corpo, passadas horas de langugem e rolinhos de barro a desfazerem-se, a minha professora acabou por me sugerir “E se fizesses uma saboneteira?”
Eu penso que ela estava um bocado a gozar comigo, apercebo-me agora, porque não me lembro do barro ser cozido e com água ia dissolver-se….talvez fosse essa a esperanca dela.
No segundo ano do ciclo, quando aprendemos macramé, eu recusei-me a elaborar um simples suporte de flores. Fui para a escola com uma revista Italiana de coisas manuais “Rakam” que a minha mãe costumava comprar, e apresentei aos professores, o enorme painel de corda e continhas de madeira que planeava fazer.
E fiz, para o torto, com as mãos já todas arranhadas de tantos metros de corda, com o peso de ter de acartar com aquele monstro de escola para casa de casa para a escola.
Foi já no sétimo ano e depois de dois mega fracassos que finalmente aceitei que não tinha futuro nas belas artes.
O primeiro foi na secção de trabalhos em metal, um morcego com um lado muito maior com o outro, que eu tentei limar e limar para acertar até o professor, me dizer “tu se continuas a limar de um lado limar do outro, daqui a pouco não tens trabalho.
O segundo e mais doloroso, na secção têxteis.
Tínhamos uns teares que penso até que eram construídos por nós nas madeiras. O meu mega projecto era a capa do Under a blood red sky dos U2. Conhecem, em tons de vermelho, o Bono agachado agarrado ao microfone.
Ainda não tinha chegado ao segundo joelho do Bono, já a minha tapeçaria tinha começado a ganhar cintura.
Os professores ainda colocaram uns araminhos de cada lado, eram as botas ortopédicas do tear, para a tecelagem crescer mais direita, mas o mal estava feito.
Vi penso que no instagram uma tarte com uma linda tecelagem de ruibarbos por cima, e embora me tenha tentado desconvencer de a fazer, não resisti.
Aqui está o resultado, notam-se nos lados as imperfeições, mas taram! Está gira que se farta, quem me dera poder mostrá-la aos meus professores.
Para esta tarte usei a habitual massa de tartes doces e recheio de frangipane de coco.
A única “complicação” aqui são os ruibarbos.
Estamos habituados a ver ruibarbos lindos e rosinhas, mas se os descascarmos para evitar a consistência fibrosa, raramente ou nunca conseguimos nada que não seja ruibarbos pálidos e esverdeados.
No restaurante adicionamos grenadine quando os cozinhamos em sousvide. Podemos também fazer uma calda de açúcar com as cascas, mas nunca ficam tao bonitos.
Tarte de ruibarbo com cobertura de trabalhos manuais
Para a tecelagem de ruibarbos:
Ingredientes:
- 5 ruibarbos (um pouco dependendo do tamanho da tarteira)
- 150 g de açúcar
- 3 colheres de sopa de xarope de grenadine ou se não tiverem umas gotas de corante vermelho.
Preparação:
Descasquem e cortem os ruibarbos em tiras usando um cortador de queijo, estilo este. Já há em Portugal? A minha mana levou um daqui há uns anos, por isso não sei. (Leitores brasileiros, penso que aí o encontram com facilidade.)
Este cortador dá os melhores resultados, podem usar também um mandolim, mas é mais complicado por querermos a tirinhas intactas,
Façam uma calda de açúcar com água, o açúcar e o grenadine e cozinhem as tirinhas não demasiado porque correm os risco de se desfazerem.
Escorram-nas e voltem às aulas de trabalhos manuais fazendo uma tapeçaria. Reservem.
Para a massa:
Ingredientes:
- 190 gramas da farinha de trigo
- 25 gramas de icing sugar
- ½ ovo (guardem o resto para o recheio)
- 100 gramas de manteiga
Preparação:
No processador de alimentos misturem a farinha com a manteiga e o açúcar. Acrescentem o meio ovo e processem até a massa começar a estar ligada. Formem um disco/retângulo dependendo do formato da vossa forma, com a massa e guardem-na no frigorífico durante 30 minutos. Estendam a massa e forrem uma forma de tarte, voltem a colocar a massa no frigorífico enquanto preparam o recheio. Aqueçam o forno o a 180°C
Recheio
Ingredientes:
- 125 g de icing sugar
- 125 g de coco ralado
- 125 g de manteiga
- 2 gemas + ½ ovo
Preparação:
Coloquem todos os ingredientes no processador de alimentos e batam até se formar um creme.
Recheiem a tarte e levem ao forno até estar meio douradinha.
Retirem a tarte do forno e com muito cuidado cubram-na com a vossa tecelagem de ruibarbos. Aparem as arestas e levem ao forno a 150°C (para noa ganhar cor) durante mais dez a quinze minutos.
A mim parece-me uma obra de arte! Esta deslumbrante, mesmo gira esta menina!
Beijinhos Ana
http://acasinhadasbolachas.blogspot.pt/
GostarGostar
Olá! Adoro o aspecto desta tarte. Ninguém diria que eras tão má nestas coisas das artes manuais 😉 E podes por favor inserir o link do cortador de queijo? Obrigada por mais esta receita inspiradora.
GostarGostar
Já está!
GostarGostar
Olá Ana,
fartei-me de rir com este teu post! Olha, mas se não dissesses ninguém diria que não tens jeito para os trabalhos manuais, porque esta “tecelagem” está bem perfeitinha!
Beijocas
Marta
GostarGostar
Tens uma enorme história com os trabalhos manuais, mas bem, as imagens funcionam como um grande spoiler, porque vendo-as uma pessoa passou a saber que o texto ia inevitavelmente acabar em sucesso 😀 Eu também nunca tive jeito para trabalhos manuais, a diferença é que nunca cheguei a fazer uma tarte linda como essa em jeito de compensação 🙂
GostarGostar
Adorei o texto porque revi-me imenso nele. Lembro-me quando era miúdo ter um projecto megalómano de fazer em barro um anel com um mega diamante em cima. Na minha cabeça fazia todo o sentido e era super fácil mas a realidade foi totalmente diferente 😛
GostarGostar
Que bom nao ser a única!
GostarGostar
Ana minha querida,
Acho que depois desta tua dissertação, devias mandar fotos desta obra de arte a todos os teus professores de trabalhos manuais, pois ficariam muito orgulhosos desta tua pequena maravilha.
Ficou brutalmente linda e ate me apetece ir a corer fazer uma tarte destas.
Um beijinho,
Lia
GostarLiked by 1 person
A Rakam!!!! Lol, todas as mães da nossa geração compravam a Rakam e a Burda????? Eu gosto de trabalhos manuais, de artes decorativas e cenas assim, mas sofro de um problema grava chamado – isto para além da minha Tourette, claro – falta de paciência aguda, ou seja, n tenho pachorra para esperar e fazer devagar nopes, é tudo para ontem e depois dá…. mau resultado! Mas a tua tarte está bem bonitona.
https://bloglairdutemps.blogspot.pt/
GostarGostar