Foi com muito prazer que recebi da Samelas um delicioso frasquinho de Raw honey ou mel multifloral para testar em algumas receitas. Como eu estava doente, foi o viking que foi buscar a encomenda e o primeiro a provar o mel.
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Do meu país e das saudades……
Perguntam-me frequentemente se tenho saudades de Portugal e se pretendo voltar ao meu país.
Quando somos mais novos, ou quando vivemos no local onde crescemos, temos a mania de que não nos identificamos com a nossa cultura, e não nos sentimos portugueses.
Há uns tempos li num blogue, qualquer coisa como “ai e tal eu não gosto de touradas, não vou ao “piquenicão” do Continente, não como orelhas de porco ergo “não me sinto portuguesa”.
Fiquei na altura espantada com a forma redutora como alguém podia ver ou sentir o espírito português que não fosse conotado com fatalismo, pessimismo, futebol e já agora fado.
E notem que eu não vou à bola, não canto o hino nacional, não abano bandeirolas nem conto como minhas as vitórias e conquistas de um famoso futebolista só porque nascemos no mesmo país.
Quando vim viver para a Suécia adaptei-me com alguma facilidade, mas tive a sorte de ter sido adoptada pela família e amigos do meu marido.
Não pertenço a associações de portugueses, não conheço de facto outros portugueses que não os senhores da embaixada e do consulado.
À questão das saudades respondi muitas vezes: “sim da minha família e da minha língua”.
Até ao dia, quando ainda era professora na Dinamarca, em que levei um cd da Amália para uma aula. E não sei como, senti repentinamente um tal aperto no coração, uma tristeza….ah..eram as saudades!
Foi o momento em que oficialmente me tornei emigrante.
E desde então tenho vindo sem medo de parecer parola, ou de que me comparem com a senhora das duas malas de cartão, a assumir que sim, tenho saudades.
Tenho saudades do cheiro e do sol das praias portuguesas, tenho saudades de passear pelas nossas cidades, da calçada, das pastelarias, da maravilhosa Pão de Rala em Évora, das igrejas, dos mercados, dos senhores nas lojas me tratarem por “menina”, até e vá lá armem-se em hipsters e riam-se de mim: Tenho saudades de ir às compras ao Continente.
E claro que tenho saudades da comida, as minhas malas não são de cartão mas regressam a Malmö cheias de iguarias, queijos, bebidas, pão de rala, folares, e doce de gila.
Só quem está longe compreenderá como subir ao Arco da Rua Augusta e entre outros turistas e dedinhos dos pés, ver o rio e a minha cidade do outro lado, ou como as palavras de Saramago ou Pessoa nos podem fazer sentir que somos de facto portugueses e que a distância dos nossos dias nos faz apreciar mais aquilo que, quem vive diariamente os problemas do nosso país, acaba por esquecer.
Para a receita de hoje usei o doce de gila que trouxe de Portugal e um livrinho de receitas que também se mudou comigo. Um grande obrigado às meninas que me sugeriram receitas para usar o meu doce, e em especial à Maria João por ter partilhado a receita da sua mãe.
A receita que apresento foi bastante alterada da publicada no livro publicado pela revista Activa há uns 20 anos.
As chávenas das fotografias são da Ikea, comprei-as por me fazerem lembrar as cores das loiças portuguesas.
Bolinhos de amêndoa e gila
Ingredientes: (8 bolinhos)
150g de miolo de amêndoa
150 g de doce de gila
3 ovos
30 g de farinha
150 g de açúcar
1 colher de chá de canela moída
Manteiga para untar as forminhas
Preparação:
Aqueçam o forno a 160°C graus. Barrem as forminhas com manteiga.
Batam primeiro o açúcar com os ovos até obterem um creme espesso e esbranquiçado. Juntem os restantes ingredientes envolvendo bem. Deitem o preparado nas forminhas e levem-nas ao forno por aproximadamente 30 minutos.
Que saudades da outra Páscoa
A pastelaria semi-industrial é para muitos de nós motivo de paixão um certo orgulho quase clubístico. Os bolos da nossa Pastelaria favorita são sempre os melhores e não hesitamos em defender a sua honra. “Não há como os Garibaldis da Suiça, ai isso tem paciência, prova e depois logo me dizes”.
Qualquer pessoa a viver fora de Portugal vos dirá que, uma das coisas de que temos mais saudades, é dos bolinhos das nossas Pastelarias predilectas. E isto não quer dizer que os bolos dos países onde vivemos não sejam bons, creio que é o ambiente do cafés portugueses que nos faz falta. As grandes montras repletas de delícias que nos acompanharam toda a vida, o barulho das máquinas do café, o tom quase familiar dos empregados “Quer o compal fresco? Mais alguma coisa menina?”.
Entrar em locais como a Páscoa ou a antiga Lua-de-Mel, é para mim hoje como voltar a ter cinco anos, colar a cara às vitrines dos bolos, demorar sem vergonha nem culpa um tempo infinito para escolher o bolo que vamos comer, e fazer a eleição final apenas quando ouvimos “Digam lá os senhores o que vai ser?”
Impossibilitada de poder ir à Páscoa a meu belo prazer, fui nos últimos anos “obrigada” a tentar reproduzir em casa os pecados da nossa pastelaria semi industrial. Desta vez apeteceu-me um Rim. Como é possível que alguém se tenha lembrado de dar este nome a um bolo está para além do meu entendimento. Rim?? Haverá órgão menos atraente? Bem, vesícula biliar ou fígado também não me parecem nada apetecíveis….
Rim não é o mais estranho, pelas Pastelarias do nosso país podemos também encontrar bolos com nomes como: Orelha e Tíbia mais dois deliciosos exemplos da anatomia humana; Sogra, Sidónio, Contraplacado, e a famosa Pirâmide que na verdade é um cone.
Quais são as vossas Pastelarias favoritas? Partilhem enquanto nos sentamos a comer estes delicados e muito fáceis de preparar Rins, eu ofereço os cafezinhos.
Se nunca trabalharam com este tipo de massa cozida, vejam o meu passo-a-passo para profiteroles. Se não querem fazer Creme de Pasteleiro, podem talvez usar um pouco de doce de ovos ou Custarda.
Ingredientes (4 rins, dependendo do tamanho)
Para a massa de choux:
- 90 ml de água
- 40 gramas de manteiga ou margarina
- 1 pitada de sal
- 1 uma colher de chá cheia de açúcar
- 60 gramas de farinha de trigo
- 2 ovos grandes
Para rechear:
- ½ receita de creme de pasteleiro
Para cobrir:
- 150 gramas de chocolate derretido em banho-Maria com 2 colheres de sopa de natas.
Preparação:
Aqueçam o forno a 220ºC.
Forrem um tabuleiro com papel vegetal.
Num tacho deitem a água, a manteiga, o sal e o açúcar. Aqueçam em lume médio até levantar fervura.
Quando estiver a ferver retirem do lume e rapidamente juntem a farinha peneirada, mexam bem. Voltem a colocar a massa ao lume, mexendo sempre, até que a massa comece a secar e se descole do fundo e paredes do tacho.
Passem a massa para uma tigela e batam-na durante mais ou menos um minuto para que arrefeça um pouco.
Incorporem os ovos, um de cada vez, batendo bem entre cada adição. Com o primeiro ovo a massa vai parecer talhada, não se preocupem, continuem a bater. Eu uso a batedeira porque é realmente muito mais fácil, mas podem bater a massa com uma colher de pau.
Assim que a massa estiver pronta, vão ter de trabalhar rapidamente. Para fazer os Rins podem usar um saco de pasteleiro, ou simplesmente ir colocando colheres de massa no tabuleiro dando-lhes a forma desejada.
Esta massa cresce imenso, tomem atenção ao espaço entre os Rins no tabuleiro.
Coloquem o tabuleiros no forno (220◦C ) até os Rins terem crescido e ganharem uma cor dourada. (8 a 10 minutos). Muita atenção que neste período não podem abrir a porta do forno, ou os Rins desmaiam e ficam achatados.
Baixem a temperatura para 180◦C e continuem a cozedura durante mais 10 a 15 minutos até os Rins estarem secos. O resultado final deve ser um bolo muito leve e oco por dentro.
Depois de frios recheiem os Rins com Creme de Pasteleiro e cubram-nos com chocolate derretido.