Ana - cozinheira

Balanço da semana – e grandes desafios.

Há uma semana que não vos dou notícias. Como imaginam foi mais uma semana de loucura no restaurante, ou nos restaurantes, porque a nossa brigada agora trabalha em dois restaurantes, quatro menus, quatro serviços. No kramer, ainda que com os habituais esquecimentos e desorganização do HC as coisas correm normalmente bem. O Nicklas toma conta do almoço e ajuda o HC com as encomendas, o Pau, que é espanhol e trabalha connosco há uns meses, é responsável pelo serviço da noite. Mas no Stortorget….. nem sei por onde começar….

Primeiro testa para a minha nova sobremesa, baked  Alaska, ontem fiz uma em casa para o viking. a receita é publicada esta semana.
Primeiro teste para a minha nova sobremesa, Baked Alaska, ontem fiz uma em casa para o viking. a receita é publicada esta semana. (ou se passarem por Malmö, podem prová-la no restaurante desde sábado.)

O segundo chef que trabalhava na cozinha foi despedido. E eu, num acto da minha habitual semi loucura, ofereci-me para trabalhar sempre de noite, uma vez que a Sofia, a outra chef que já trabalhava no Stortorget antes do HC o ter herdado, tem três crianças pequenas e prefere obviamente o turno de dia.
Uma cozinha comandada por duas mulheres é uma cozinha limpa e ainda que pequenita e com uma grande falta de equipamento, uma cozinha que não nos envergonha. Para o HC é um alívio porque entre mim e a Sofia tomamos conta de tudo, desde os relatórios de higiene, a sugestões dos menus, limpamos congeladores, e frigoríficos, ensinamos os estudantes que há umas semanas se recusavam a vir para o stortorget e agora não querem voltar para o Kramer.
E estaria tudo a correr maravilhosamente não fosse um pequeno detalhe. Este restaurante nunca tinha estado aberto para jantares e não tem clientes. Agora o que me surpreende é que nenhum dos chefs se preocupou com isto. (o HC pelos vistos também não se apercebeu do que se estava a passar)
Depois de duas semanas quase sem clientes, pedi uma reunião com o HC para tentarmos melhorar a situação. Eu tenho muita sorte porque ele me confiou organizar o serviço, e escolher pratos novos para o menu, deixar todas as noites sugestões do dia na recepção, e de alguma forma mudar o tipo de comida e conceito do restaurante. Eu gostava de ter um chef com mais experiencia a trabalhar comigo, uma pessoa que me ensinasse técnicas novas e me trouxesse desafios, mas por agora estou sozinha.

Chocolate, laranja, pimenta rosa. A sugunda das minhas novas sobremesas. (fotografia do teste)
Chocolate, laranja, pimenta rosa. A sugunda das minhas novas sobremesas. (fotografia do teste)

O número de clientes tem melhorado muito, mas é uma luta contínua. O pessoal do serviço não está trienado para um serviço à la carte com menus de três pratos, e os tickets com os pedidos das mesas estão constantemente a chegar à cozinha com erros. A comunicação é do tipo:
Serviço: “A pessoa que pediu o bife, quer molho de vinho tinto em vez de molho de pimenta”
Eu: “A pessoa? Qual pessoa? Que mesa? Eu não tenho nenhum pedido de um bife em espera!”
Serviço: “Ai ….enganei-me….”
E eu que sou habitualmente uma pessoa calma e simpática, assim que começa o serviço, transformo-me todas as noites no Godzilla. O stress de estar sozinha numa cozinha, a tomar conta de entradas, pratos principais e sobremesas, até o pão para o couvert tenho de cortar porque é uma tarefa demasiado complicada para os empregados de mesa, o esforço de querer levantar este restaurante do chão, quando na sala de jantar os nossos clientes têm de esperar porque alguém se esqueceu de apontar as suas encomendas, está a deixar-me à beira do colapso.
Sábado estava supostamente livre, mas lá fui para o restaurante mostrar as novas sobremesas ao Nicklas que ia tomar conta do meu turno, deixar o menu do dia na recepção, escrever mais um e mail aos nossos patrões alertando para a necessidade urgente de treinar o pessoal do serviço.
Hoje, mas uma vez livre, reunião com o HC às duas, passar pela cozinha, escolher os pratos para esta noite, escrever o menu, esperar pelo Bjarne que trabalha esta noite na minha mini cozinha.
Cheguei a casa depois das quatro, já a pensar no banquete de quarta-feira e no jantar especial para três convidados na quinta-feira.
Gostava, e a conversa é sempre a mesma, de ter mais tempo para o meu blogue, sinto-me quase culpada por receber sempre comentários tao simpáticos dos meus fregueses, e de nem sempre poder retribuir. Tenho uma imensidão de receitas e historietas para vos contar, tenho posts já fotografados….vamos ver se esta semana corre melhor. Obrigada a todos por me acompanharem e por me deixarem desabafar convosco.